Elon Musk e a selva judicial brasileira
O Brasil é um bom exemplo de como a política pode dividir uma sociedade. O ex-presidente Jair Bolsonaro e seu sucessor Lula da Silva são responsáveis por isso, acusando um ao outro de abuso de poder e roubo. E no meio de tudo isso, Elon Musk está preparando "sua própria sopa".
Os caixas do supermercado Princesa, na Rua Bolivar 34, nunca viram um espetáculo como esse. Bem em frente ao seu local de trabalho, que é aberto para a rua, o ex-presidente Jair Bolsonaro está sendo conduzido pela estreita via de acesso, acenando do teto de um SUV. Ele chamou seus apoiadores para a mundialmente famosa praia de Copacabana e cerca de 40.000 "bolsonaristas" estão marchando pelas ruas.
Smartphones são posicionados, e inúmeros apoiadores cantam o apelido de Bolsonaro "Mythos, Mythos" e seguem a carreata em ritmo de caracol. Quando a bandeira vermelha do partido trabalhista de esquerda de Lula, o PT, é agitada de um apartamento, e alguns dedos são apontados na direção da procissão de Bolsonaro, seguem-se gritos furiosos de "Fora Lula".
A cena da rua resume perfeitamente a sociedade polarizada do Brasil diante de um presidente em exercício, Lula, que muitos acusam de instrumentalizar o judiciário, enquanto seu antecessor populista de direita se apresenta como vítima do novo governo de esquerda e de suas instituições. O exemplo do Brasil mostra o que acontece quando o centro da sociedade, quando a democracia e a liberdade sofrem pressão de ambos os lados do espectro político: Qualquer possibilidade de consenso é perdida.
O que é realmente surpreendente sobre essa marcha de protesto no Rio de Janeiro, é que a manifestação não apenas celebra Bolsonaro em seus cartazes, mas também um dos homens mais ricos do mundo, Elon Musk. O bilionário americano desempenha um papel importante na disputa entre os campos políticos da esquerda e da direita.
Desde a compra do Twitter (agora X) em 2022, Musk tem se envolvido cada vez mais em debates políticos e se estilizado como um fervoroso defensor da liberdade de expressão; com sua ira direcionada principalmente às narrativas de esquerda e seus representantes.
No Brasil, Musk atacou um juiz do Supremo Tribunal de Justiça (STF). O bilionário fez acusações graves contra o juiz Alexandre de Moraes. "Por que você está exigindo tanta censura no Brasil?", perguntou Musk por meio de seu serviço de mensagens curtas X e, inicialmente, anunciou que ignoraria o bloqueio ordenado por lei de centenas de contas, principalmente pertencentes a apoiadores de Bolsonaro que supostamente espalharam notícias falsas. Mais tarde, Musk se apressou em explicar que respeita as leis brasileiras. Após a manifestação de Bolsonaro, no entanto, Musk foi além e escreveu que Moraes era "um inimigo do povo e, portanto, da democracia".
Decisões pessoais esquisitas
Moraes é considerado um herói no campo da esquerda liberal, pois como presidente do Tribunal Superior Eleitoral, tomou todas as decisões polêmicas a favor de Lula durante a campanha eleitoral. No campo de Bolsonaro, por outro lado, ele é o inimigo número um, acusado de restringir a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão.
O famoso jornalista investigativo americano Glenn Greenwald, que já foi responsável pela publicação dos documentos secretos dos EUA vazados por Edward Snowden, falou de um imenso poder. "Moraes tem uma função dupla: é juiz do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Eleitoral. Moraes toma decisões antidemocráticas", afirma Greenwald.
Desde a sua vitória eleitoral no final de 2022, o Presidente Lula aparentemente tem equipado o judiciário com "capangas". Por exemplo, Lula conseguiu colocar Cristiano Zanin, seu advogado pessoal, na Suprema Corte. Desde fevereiro, um confidente político próximo de Lula, Flavio Dino, também saiu diretamente do gabinete para chefiar o STF.
Alguns meios de comunicação brasileiros estão agora chamando o Supremo Tribunal Federal de "tribunal do PT", tendo em vista os muitos advogados instalados por Lula e sua antecessora de esquerda, Dilma Rousseff. Embora as ações de Lula não sejam ilegais, elas criaram uma enorme desconfiança na independência das instituições judiciais.
Bolsonaro foi levado a julgamento por suas alegações não comprovadas de fraude eleitoral e manipulação de votos e foi considerado culpado de abuso de poder. Nesse mesmo contexto, o político é sem dúvidas, também responsável pelo vandalismo de uma multidão enfurecida em Brasília, que se recusou a aceitar a derrota eleitoral por muito pouco em janeiro de 2023.
O populista de direita, agora está proibido de concorrer a cargos públicos por oito anos. Aldo Rebelo, ex-ministro do governo Dilma, disse ao jornal "O Globo" que "Bolsonaro agora está sendo perseguido politicamente da mesma forma que Lula foi antes dele". Primeiro tentaram excluir Lula das eleições, "agora estão tentando excluir Bolsonaro", disse Rebelo.
Lula, por sua vez, está bloqueando qualquer investigação sobre os grandes escândalos de corrupção envolvendo as empresas Petrobras e Odebrecht, que abalaram a política brasileira e seu partido, anos atrás, e levaram Lula à prisão por um tempo. O fato de seus advogados e confidentes estarem agora em posições-chave no judiciário é visto por muitos como uma tentativa visível de impedir qualquer investigação futura.
A ONG anticorrupção "Transparência", foi citada no Financial Times dizendo que o Brasil havia se tornado "um cemitério de provas de crimes que causaram miséria, violência e sofrimento humano em mais de uma dúzia de países da América Latina e da África" à luz dos recentes julgamentos da Suprema Corte.
Dezenas de políticos latino-americanos foram subornados como parte do escândalo envolvendo a empresa de construção Odebrecht. Durante um dos primeiros mandatos de Lula, os políticos foram persuadidos a aprovar uma legislação que favorecia o setor.
A credibilidade de Lula também está sendo manchada atualmente, pois após a mudança de governo, ele afirmou que seu antecessor Bolsonaro havia levado móveis valiosos com ele quando se mudou, e até anunciou uma nova lei "para que não aconteça novamente de um presidente levar objetos históricos que pertencem ao Estado brasileiro". A alegação de Lula correu o mundo na época. Desde então, o jornal "Folha" descobriu que os móveis não haviam desaparecido nem sido roubados, mas estavam no palácio presidencial o tempo todo. Lula está envergonhado, e Bolsonaro está considerando um processo por difamação.
Tanto Bolsonaro quanto Lula perderam crédito em outros campos, devido a seus delitos. A influência controversa de Lula sobre o judiciário e o estilo polêmico de ambos, dificilmente mudará, e muito menos diminuirá as divisões na sociedade.
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