Como os super mosquitos criados no Brasil estão combatendo a dengue

O vírus da dengue é transmitido por mosquitos e está se espalhando rapidamente em muitos países. No Brasil, os soldados estão ajudando a conter uma epidemia e agora, um mosquito de laboratório poderá resolver o problema.

    Deir Silva abre a janela traseira do carro em movimento, estende um pote plástic0 para fora e retira a tampa com cuidado. Em seguida, ele sacode a lata e mosquitos saem zunindo do recipiente para o céu de Niterói. "Voem e façam seu trabalho!", diz Deir. Depois de cerca de 50 metros, ele segura a próxima lata pela janela. 
Deir, 57 anos, trabalha para o World Mosquito Program, uma organização fundada na Austrália. Os mosquitos liberados são Aedes aegypti, e podem ajudar a controlar um dos maiores problemas de saúde da atualidade. À primeira vista, isso pode parecer absurdo, pois até onde sabemos, o Aedes aegypti é o problema, e não a solução.

    A espécie de mosquito pontilhado transmite doenças tropicais como Zika, chikungunya e dengue. Atualmente, o número de infecções por ano é oito vezes maior do que nos últimos 20 anos. A Organização Mundial da Saúde recentemente deu o alarme: metade da população mundial corre o risco de ser infectada. Até mesmo a França e os EUA registraram casos da doença tropical, apelidada de febre quebra-ossos.

    Porém, há alguns anos, pesquisadores da Austrália fizeram uma descoberta inovadora. Eles infectaram ovos de mosquito com uma bactéria natural chamada Wolbachia. "Para nossa surpresa, conseguimos provar que a Wolbachia bloqueia os vírus da dengue e de outras doenças", explica Luciano Moreira, em na entrevista. Foi mais difícil para os mosquitos infectados se reproduzirem no hospedeiro. Isso significa que a probabilidade de os mosquitos transmitirem os vírus aos seres humanos foi reduzida.

    Na época, o brasileiro Luciano Moreira fazia parte da equipe de pesquisa. Ele retornou ao Brasil em 2010, um ano depois, os ovos do mosquito chegaram da Austrália. Com o apoio do Ministério da Saúde, ele e seus colegas do Instituto Estadual de Pesquisas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) começaram a criar seus próprios Wolbitos (nome dados aos mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia). Os primeiros testes com modelos foram realizados, e até agora os mosquitos foram liberados em seis municípios, principalmente na cidade de Niterói.

    Em 2022, o Programa Mundial de Mosquitos entrou em contato com a estação de saúde do Morro da Atalaia, em Niterói, e disseram que havia um projeto para liberar mosquitos. No entanto, antes que isso pudesse acontecer, os moradores tinham que dar seu consentimento. As favelas são mundos próprios, com suas próprias leis e simplesmente chegar e liberar os não seria possível. Foi aí que Raissa de Souza Vieira entrou em cena. Raissa é natural do local e presta serviços comunitários na favela.
No início, segundo ela, muitos moradores estavam céticos. Já havia mosquitos suficientes aqui, disseram a ela. Ela respondeu que esses mosquitos eram diferentes e ajudariam a combater doenças. Junto com seus colegas, ela foi de casa em casa, distribuindo panfletos e colando cartazes. "Äos poucos, os moradores entenderam os benefícios da iniciativa", e hoje, o sucesso já pode ser medido em números.

    Um estudo científico mostra que os casos de dengue em Niterói foram reduzidos em 70%, enquanto os casos de chikungunya foram reduzidos em 50%. Atualmente, Niterói registra quatro vezes menos casos de dengue do que o Rio de Janeiro. "Funcionou", diz Raissa. "Sem o programa, teríamos agora os mesmos problemas que outras cidades." Niterói é considerado um projeto emblemático e tem atraído interesse em todo o país. Em breve, outras sete cidades estarão repletas dos "super mosquitos".

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